A estufa de Julien

Julien segurou as mãos dela, tentando dar para ela o mínimo de conforto que ela precisava. Pesou as palavras com o coração e então disse:

- Ao meu ver, você tem duas opções. Você poderia continuar procurando por Adam e pelo seu criador, tentando encontrá-los para talvez descobrir o por que você foi feita, e como. Pra que assim você consiga entender como este corpo funciona, e como isso foi possível. Pode demorar, mas uma hora ou outra você vai encontrá-lo, e vai poder confrontá-lo com isso.

Ele respirou fundo. Não queria que ela escolhesse permanecer neste caminho. Ele pensava que nesta estrada, haveria apenas dor e tristeza, baseado no que ele havia presenciado naquela mesma noite. Mas se fosse da vontade dela, ele usaria todos os recursos à mão para ajudá-la.

- A outra opção é você dar um tempo nessa busca. Seria você procurar um objetivo, uma motivação que não envolva este homem. Dar um tempo a si mesma para digerir tudo isto, antes de sair cegamente atrás dele em busca de respostas. Porque, Zoe... Mesmo que você encontre ele, não é garantido que ele te diga o que você quer ouvir. Você já busca há tantos anos... Talvez seja hora de... parar.

Ele apertou suas mãos entre as suas.

- Eu não quero te dizer o que fazer. Mesmo tendo minhas opiniões estou te dizendo o que acho que são suas opções. Me desculpe se fui indelicado.

- Parar?

Um murmúrio perdido, como uma cinza sendo levada pelo vento. Foi difícil ouvi-la e ainda mais difícil ver para onde ela foi, até se perder completamente. A palavra morreu no ar, mas a ideia se plantou fundo na memória de Zoe. Um pouco atrás deles Konstantinos apareceu, surgindo do nada que havia entre um móvel e outro, e lentamente caminhou até o lado de Zoe, saltando em cima da cama e deitando-se sobre o colo dela. Foi por instinto que Zoe o acariciou, sua mente estava em outro lugar agora, explorando as suas opções e o que poderia ser feito.

Sim, ela poderia parar. Deixar aquilo de lado e seguir com sua eterna vida, procurando novos objetivos e interesses.

Sim, ela poderia seguir em frente. Recusar-se a abandonar a sua missão por um senso de necessidade e dever.

Sim, ela poderia fazer nem um e nem outro. Bastaria desistir e deitar-se ali, naquela confortável cama e parar de pensar, se perder completamente dentro do silêncio interior.

- Talvez... seja hora de parar.

Julien respirou fundo, e nunca chegou a soltar o fôlego. Era um misto de alívio e tristeza, aquilo que sentia agora em seu coraçãozinho enorme e imóvel.

Ele estava feliz por ouví-la dizer que talvez fosse hora de deixar todos estes homens horríveis para trás e buscar algo novo... mas tristeza pois ele viu o propósito de uma vida centenária sendo apagado, perdido no tempo, como lágrimas na chuva.

Ele decidiu que já era hora de terminar com aquilo. Fechou os aparatos, guardou suas coisas mais importantes em uma mochila e escoltou Zoe de volta para a mansão em silêncio.

Levou-a até seu quarto, e fez companhia se ela assim desejasse, ou até que se cansasse dele. Pelo menos tinham a eternidade. Pelo menos tinham um ao outro. Ele tocou a cabeça de Konstantinos antes de deixar o quarto.