Quarto do Julien

- Ooh. - Julien bebericou mais chá e ficou pensativo. - Faz sentido. A pessoa que criou vocês deve ter sido um grande gênio mesmo. Porém...

Ele colocou a xícara de volta na mesinha e se aproximou um pouco.

- Conhecendo o que a gente conhece com o exemplo dessa mansão, e dado que você já procura há anos e não chegou nem perto de descobrir como foi feito usando só a biologia... Como pode ter certeza que foi apenas ciência que foi usada, e não algo mais?

Ele estava realmente conjecturando.

- Vou te dar um exemplo. Eu morri por infecção alimentar. Eu sei, ridículo, mas é por isso que eu não tenho marcas no meu corpo. E eu tinha comido uma coisa que se chama pó de zumbi. Foi o que os especialistas que eu encontrei me disseram depois. É basicamente as cinzas de outro zumbi que já havia existido. Mas se fossem fazer cinzas de mim, não funcionaria. Porque as cinzas do pó de zumbi precisam ser de um zumbi vodu. Que é aquele que eles fazem um ritual e obrigam a alma a voltar ao corpo apodrecendo e prendem ela lá. Essa magia residual é o que consegue prender outras almas em outros corpos pulando a parte do ritual. Não estou dizendo que é isso que ele fez, ou nem que seja só isso. Mas me parece que ele escolheu as melhores partes, criou um corpo que considerou perfeito e depois encontrou uma forma de pegar uma alma e colocar neste corpo. E não acho que é algo que você consiga fazer só com ciência.

Ele olhou para Konstantinos e seus olhinhos.

- Eu sei que você já considerou isso tudo durante sua vida, mas se você foi trazida à vida por algum ritual acho que estamos um pouquinho mais próximos, nós três.

- Faz todo o sentido. Mas tenho certeza que você vai conseguir alcançá-lo. Dizem que as criaturas nascem para superar seus criadores, inevitavelmente, não é? Não sei quem disse, mas... Alguém deve ter dito.

Ele deu mais um de seus sorrisos. Ele se levantou e se espreguiçou de forma exagerada, e chamou Konstantinos para brincar um pouquinho. 

- Ah. Sobre isso, não se preocupe, de verdade. Antes de eu morrer acho que nunca realmente tinha vivido. É meio sem graça dizer que sou tão feliz sendo morto-vivo, não é? 

Ele ficou meio sem graça, mas logo resolveu afastar este pensamento. 

- Bem, acho que estamos prontos para conhecer a minha estufa! O que acha?

- Bem, eu eventualmente irei superá-lo. E diferente dele, serei uma humana melhor, mesmo não sendo uma.

Konstantinos se aproximou de Julien ao ser chamado, sentando na frente dele. O Shiba Inu, apesar de ser um cão, não se portava tanto assim como um. Era mais certo dizer que ele era como um gato ou um rei, agindo como um verdadeiro soberano com todo o orgulho e a pose digna de um. Mesmo assim, por conta do corpo que possuía, ele não conseguia ser completamente contra carinhos na cabeça e na barriga.

- Entendo. Bem, creio que conseguirá bem aproveitar a sua... pós-vida? Não sei o termo certo. - Zoe sorriu para ele e terminou seu chá, levantando-se junto dele. - Vamos indo então! Quero ver como está lá.

- Acho que já é, por não deixar que seus objetivos fizessem com que você machucasse outras pessoas. Não importa em qual luz você olhe isso, você é muito mais humana do que muita gente por aí.

Julien pediu licença a Konstantinos para pegá-lo no colo e fez questão de abrir a porta para Zoe.

- Depois da senhorita!

E, lançando um último olhar para dentro do quarto, o fechou novamente, e seguiram pelo corredor em direção aos Jardins.